Exatamente garotas! Seu bebê pode conversar e desenvolver um diálogo com você. E um diálogo consistente! Talvez (falo como alguém que não é especialista, apenas observadora-mãe), o estímulo parental seja fator decisivo para que a criança seja capaz de, nos primeiros anos, aprender a arte da conversa, passando daquela fase inicial da fala – onde começou a dominar a pronúncia de palavras soltas e a identificar objetos e pessoas pelos nomes – para a construção de verdadeiros diálogos. Lógico que não estamos falando aqui de uma dissertação filosófica nem nada parecido mas, sim, do desenrolar de um bate-papo, cujo tema principal será o mundo comum à criança.
Acredito que, para que isso seja possível – ou ao menos facilitado – a qualidade das interações verbais que nós, adultos, mantemos com os pequenos faz grande diferença. A exemplo do que acontece com a experiência da leitura, nas palavras de John Holt, 2007:
Não há razão, tampouco, para crermos que devemos sempre ler livros “fáceis” para as crianças, isto é, livros que elas possam “entender”. Se lemos algo de que gostamos, de forma expressiva e prazerosa, a criança pode bem gostar da leitura por um tempo, mesmo que não entenda tudo o que ouve. Acima de tudo, as crianças gostam de ouvir os adultos falar, mesmo que não possam entender a maior parte do que ouvem.
E, em outro trecho:
Dificilmente faremos mal às crianças se colocarmos a seu alcance textos (diálogos) com muita informação. Desde que não as forçamos a aprender tudo, elas apanharão neles o que precisarem e deixarão o resto de lado, para mais tarde. Mas se lhes dermos pouca informação, facilmente conseguiremos entediá-las e confundi-las. (Parêntese meu)
Assim, entendo que o diálogo com as crianças também não precisa ser limitado às palavras corriqueiras, de fácil pronúncia e compreensão, no estilo the book is on the table*. Podemos, aos poucos, e de forma natural, inserir no vocabulário da criança palavras mais complexas, tanto quanto à pronúncia quanto ao que diz respeito ao seu significado. Mais uma vez, não me refiro a tratar de temas abstratos nem de teorias da física quântica. Digo, apenas, que no diálogo com eles não precisamos desesperadamente nos esquivar de palavras com mais de duas sílabas nem nos prender àquelas que nomeiam objetos e pessoas ou ao diálogo que consiste em comandos e elogios.
De fato, chega um momento em que toda criança passa a ser capaz de assimilar mais e, por conseguinte, interagir mais. Precisamos estar atentos para salpicar doses de um “diálogo mais complexo” à medida que a compreensão da criança for se expandindo. Sem acelerar nada. Sem pressão. Apenas atendendo ao próprio ritmo da criança, como um carro “pedindo marcha”, entende? (Desculpem-me os da geração dos automáticos). Você não dá partida no carro e simplesmente engata a quinta! Você progride nas marchas à medida que vai aumentando a velocidade. E, quando não o faz, o carro “pede a marcha”. Imagino que aconteça algo análogo no desenvolvimento da habilidade para conversar em crianças pequenas. Num momento elas estarão preparadas para mais e, um interlocutor atento, daqueles que não acha que criança pequena só fala abobrinha, pode fornecer à criança esse “mais”. Não me refiro aqui a apressar nada, queimar etapas, forçando a criança num ritmo de crescimento incomum, no estilo competição de mães – daquele tipo que quer fazer frente ao filho da amiga que já está fazendo isso ou aquilo. Nada, nada, nada disso! É exatamente o contrário. Falo justamente de respeitar o tempo da criança e apenas fornecer aquilo para o que já está pronta, em vez de assumir que ela ainda não é capaz de entender e confina-la, assim, a um nível de conversa que já se tornou tolo para ela.
O fato é que quanto mais expostas as crianças forem aos diálogos, mais aprenderão sobre como dialogar. E, mais que isso, não apenas sendo expostas às conversas dos adultos mas, inseridas em diálogos reais e com verdadeiro significado. Adultos, quando falarem com as crianças sejam sinceros. Perguntem coisas que realmente desejam saber. Afirmem coisas que são verdadeiras. As crianças captam facilmente nosso estado de humor, nossas dissimulações e nossas tentativas de ludibria-las.
Meu professor? É o meu filho. 😉
Bjos!
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HOLT, John. Como as crianças aprendem. Tradução Walther Castelli Jr. Campinas, SP: Verus Editora, 2007, págs 161 e 165.